sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Pai

Eu nunca tive coragem de escrever sobre isso, mas acho que este é o momento de colocar tudo para fora, pois venho guardando há mais de 10 anos uma dor que ninguém vai sentir igual.

Lembro bem da minha infância, quando avistava a pessoa que mais me deixava feliz só com sua presença, não tinha mais irmãos pequenos e nem coleguinhas na rua então, ele brincava comigo e eu adorava, não importava se fosse de boneca ou pião, mas eu ficava feliz.
Lembro bem que nunca bateu em mim, não sei o motivo, mas acho q eu era tão feliz que nunca dei motivo para que isso acontecesse, nós tinhamos uma sintonia que não sei explicar, era realmente coisa de alma.
Lembro do dia que soube que tinha ele tinha ficado doente e talvez não o viria mais, mesmo assim ele veio me ver. 
Lembro-me do dia de minha formatura do ABC, onde ele não estava lá, vi todas as minhas colegas dançando a valsa com seus pais e eu só podia olhar.
Porém me recordo do dia chuvoso em que sua doença agravou-se e chegou o dia em que não me reconheceu mais, eu era criança e sai chorando na rua sem entender o porquê daquilo está acontecendo comigo.
Passou-se uns meses e eu o reencontrei, e de longe vi que havia melhorado, pois mostrou que não havia esquecido de mim e novamente voltei a sorrir, porém não por muito tempo. Eu não me importava pela rejeição de outras pessoas, o que valia era que apenas ele gostasse de mim e era assim, ele gostava.
O inicio de minha adolescência foi tão dificil, eu não o tinha perto de mim, para me dar carinho e me aconselhar como eu precisara. Depressão, bulimia, rebeldia tomaram conta de mim, pois gostaria de tentar pelo menos entender tudo. Minha pãe (mãe), foi e até hoje é uma guerreira, pois me suporta do jeito que sou, me dá o ombro para chorar, quando não aguento e dá conselhos para a vida.
Há uns meses o vi e não contive minha emoção, minhas pernas tremeram, as lagrimas caíram e ninguém entendeu o porquê novamente. A idade, o AVC e outras doenças que possam ter surgido com o tempo o deixou debilitado e eu não posso fazer nada.
Hoje, aos 19 anos, vivo neutra, tento não pensar em tudo que aconteceu e ainda acontece, pergunto que culpa tive de ter nascido, porque meu pai não está comigo e porque não posso vê-lo. Em alguns momentos me bate uma saudade e, é inevitável não me trancar no quarto e chorar até aliviar. 
Você deve está se perguntado: - Por que ela não vai visitá-lo?
Porque eu sou impedida por pessoas que não têm um pingo de sensibilidade, quem me conhece sabe o que acontece por fora, mas não sabe o dano que isso causa dentro de mim.
Meu pai e eu com 3 ou 4 anos.